
Meu nome é Sofia Fuscaldi Cerezo, 21, nasci na cidade de Belo Horizonte e estou no 8º período de Jornalismo na Ufop. O sonho de viajar sempre me acompanhou. Aquela vontade de experimentar o mundo e conhecer outras culturas, e também de aperfeiçoar o inglês no exterior. Por isso, já estava à procura de oportunidades. Em janeiro deste ano, eu me deparei com o edital de inscrição para o programa Study of the U.S. Institutes (SUSI), com o tema Youth, Education and Closing the Skills Gap, no site do Caint, e, como eu preenchia os requisitos, me inscrevi.
A maior dificuldade para a inscrição foi conseguir cartas de recomendação dos professores, pois o prazo de inscrição era muito curto, e estávamos no período de férias. Sou muito grata aos professores Ricardo Augusto e Cláudio Coração, do Departamento de Jornalismo, que prontamente se dispuseram a escrever as cartas, e, assim, consegui fazer a inscrição a tempo. Infelizmente, o edital não continha informações claras sobre a quantidade de vagas, os critérios de seleção ou a data de divulgação. Após ser selecionada entre os alunos da Ufop, fui informada de que uma seleção estadual e outra nacional ainda seriam realizadas, portanto, eu não estava confiante ou esperançosa que seria selecionada.
Foi imensa a surpresa e a alegria quando recebi um e-mail, em abril, da Embaixada Americana, me parabenizando e pedindo a confirmação da participação no programa. Foi então que comecei a me organizar para conciliar as disciplinas que eu estava cursando, o meu estágio obrigatório e a viagem que aconteceria no final de junho. Obter a documentação necessária foi muito simples. Eu já possuía o passaporte, e todo o restante da documentação, como o visto e também estadia e passagens foram providenciados e orientados pelas organizações responsáveis pelo programa: as ONGs Meridian International Center e Foundation for International Understanding Through Students (FIUTS), a Embaixada Americana em Brasília e o Departamento do Estado dos Estados Unidos. E depois de três aviões, chegamos. Quatro brasileiros nos EUA.
A experiência foi inesquecível, e abriu a minha mente para diversos assuntos e pontos de vista. O grupo com o qual participei era composto por 19 estudantes de graduação de cinco países diferentes: Brasil, Índia, Indonésia, Nigéria e Tunísia, e, entre nós, os mais variados cursos, como Direito, Engenharia, Farmácia, Letras e Comunicação. Nós ficamos hospedados um mês na cidade de Seattle, em Washington, três dias em Milwaukee, Wisconsin e quatro dias em Washington, D.C, capital dos EUA. Em Seattle, nós tivemos aulas e workshops na Universidade de Washington e também no South Seattle College’s Georgetown Campus. A programação também incluía diversas visitas a empresas como a Microsoft e Google; visitas a Organizações Não Governamentais e outras iniciativas, como a Bill & Melinda Gates Foundation Discovery Center e o Year Up Puget Sound; e visitas a atrações turísticas, como o Space Needle e o Museu de História e Indústria (MOHAI).
Além disso, realizamos trabalhos voluntários em diversas áreas, como em Food Banks, na EarthCorps e na Food Lifeline. A FIUTS, responsável pela programação em Seattle, também teve a preocupação de nos mostrar como é a vida dos estudantes e moradores de Seattle. Por esse motivo, passamos a primeira semana em Host Families, casas de pessoas que se voluntariaram para nos acolher durante uma semana. E, durante as outras três semanas, fomos hospedados em um dormitório na Universidade de Washington, sendo designado um estudante ou ex-aluno da Universidade para acompanhar cada um de nós, nos apresentando a cidade, restaurantes e passeios que eles costumam fazer. Com eles, nós participamos da comemoração da Independência dos EUA, o Fourth of July, e da Seattle Pride, a comemoração do orgulho LGBTQ+ em Seattle. Também jogamos boliche e assistimos a um jogo de baseball no Estádio T-Mobile Park.
A recepção foi muito acolhedora, e todo o programa foi muito bem planejado e executado. Os responsáveis pelo programa se preocuparam com cada detalhe, como cartões para utilizarmos o transporte público, telefones com chip americano e internet para nos comunicarmos e utilizarmos o GPS, cartão alimentação para ser utilizado na Universidade e também orientações as mais diversas para facilitar o nosso envolvimento, a estadia e o aprendizado.
A experiência foi incrível, e os laços de amizade criados ali são tão fortes que a despedida foi difícil, ou quase impossível, para todos. Seattle é uma cidade maravilhosa, e conhecê-la a partir de diversos pontos de vista foi muito interessante, assim como comparar a forma como ela se organiza ao resto dos EUA, e também a cada país participante do programa. Durante as aulas, aprendemos e discutimos com profissionais de variadas áreas sobre a lacuna entre a educação superior e o mercado de trabalho, assim como o desenvolvimento de formações técnicas e alternativas para adentrar o mercado de trabalho. Também discutimos sobre como funciona o sistema educacional nos EUA e a história dos movimentos trabalhistas no país, além de como o desenvolvimento de novas tecnologias estão influenciando, tanto o trabalho, quanto a vida das pessoas e a economia local. Nos workshops desenvolvidos pela FIUTS, aprendemos sobre liderança, networking, valores éticos e como desenvolver o nosso próprio workshop.
Ao viajarmos para Milwaukee, pudemos perceber uma grande diferença entre as cidades. Seattle, como um polo tecnológico e uma das cidades mais caras dos EUA, e Milwaukee, uma das cidades mais pobres dos EUA, com a maior parte da economia direcionada para fazendas e produção de laticínios. Tanto em Milwaukee quanto em Washington D.C, o planejamento do curso foi realizado pela Meridian, seguindo com o mesmo assunto, visitas e trabalhos voluntários, porém, na perspectiva de outras cidades, ambientes e profissionais. Em D.C, pudemos encontrar com os outros 80 participantes do programa: estudantes de outros países, com temas diferentes do nosso e que visitaram outras cidades nos EUA no mesmo período em que o nosso grupo.
Para mim, uma iniciativa como essa abre os nossos olhos para o mundo. Percebi que somos todos tão diferentes e, ainda assim, iguais. E mesmo que isso fosse algo que eu já soubesse na teoria, nada se compara a vivenciar essa troca incrível entre culturas. Acredito que o SUSI é um programa que nos incentiva a não encerrarmos nele esse intercâmbio entre os países. É uma porta de entrada, um primeiro lampejo das oportunidades e caminhos que podemos seguir, mesmo que os obstáculos nos nossos países de origem sejam enormes.
Ao voltar para o Brasil, o choque cultural não é fácil. Percebi a diferença de oportunidades que existem, principalmente entre estudantes brasileiros e americanos. Porém, também é possível notar os avanços que possuímos em relação aos EUA, e que espero que se mantenham avançando, mesmo na conjuntura política atual. O nosso sistema de saúde é um exemplo disso, com um funcionamento mais eficiente que o estadunidense. Caso aconteçam outras edições do programa, eu recomendo muito a participação para quem está disposto a se abrir para novos pontos de vista e a abraçar outras culturas e crenças. Também espero que a divulgação do edital seja eficiente, pois é uma experiência que com certeza modificou a minha vida para sempre, e que eu vou levar comigo com todo o carinho, para cada canto que eu for.